AMOROSIDADES ESPARSAS

Minha história arquivada

 Uma frase de Cidinha Araújo me inspirou a escrever as minhas Amorosidades Esparsas:

" O bonito desta vida é poder costurar sonhos, bordar histórias e desatar os nós de nossos dias."

Segundo o conselho de Cidinha Araújo, escritora, psicóloga e autora da frase, estou aqui bordando histórias dos meus sonhos, costurados há tanto tempo. Também, desatando nós de histórias intensamente vividas por mim  e meu companheiro de mais de sessenta anos de união e de outras pessoas que me são tão caras hoje em dia.

O que  chamo de Amorosidades? Amorosidades são mensagens que recebi ou que dei ao longo da vida, desde o ano 1951, quando conheci o Tibúrcio em Ipameri- Goiás. São palavras carinhosas ou atitudes demonstradas em ocasiões especiais, durante nossa vida a dois. Tudo o que contribuiu para a felicidade conjugal.

 Nestas pastas ali acima☝☝, estão arquivadas, em ordem cronológica, nossas cartas dos tempos de namoro e casamento e algumas mais" recentes", tudo organizado metodicamente pelo Tiba. Entre as páginas das cartas, amareladas pelo tempo, encontrei cartões de Natal, do Dia das Mães e de outras datas comemorativas, bilhetinhos de filhos e netos, e de  amigos comuns. Tudo guardado pelas mãos do Tiba. Sei que muita gente não dá valor a essas coisas. Certas pessoas acham um tanto piegas valorizar tais situações, mas não tem importância. Sou assim: o menor gesto de carinho tem um valor inestimável e sempre me faz feliz, recebê-lo ou doá-lo. Tais gestos me trazem doces lembranças de quem me presentou ou a quem eu presenteei. Na foto acima 👆, os álbuns guardam as preciosidades. A primeira do Tiba, de 29 de abril de1951,diz: " Eu bem quisera possuir em meu coração, um viveiro de beija-flores. Todas as manhãs, soltaria um que fosse levar-te os meus afetos no primeiro raio de sol e dizer-te quanto sofro com tuas saudades." E ainda fui comparada a algo belíssimo :" Você é como um pingo d'água na folha do inhame..."

Pé de inhame e a flor

 Jamais esquecerei a imagem da gota de água dançando sobre a folha. Isso me surpreendeu. Assim como  as mensagens dos cartões de Natal, do Dia das Mães, de outros eventos acontecidos em nossa vida. Alguns são primorosos. Em um deles Tiba diz:    

 "

Meu cartãozinho

O Natal chegou! Peço ao Senhor que o badalar dos sinos de Natal se confunda com o soar dos clarins, numa só junção de glórias e felicidades  para o nosso futuro." 

Era dezembro de 54-Em Três Corações- MG . Gostei tanto  da mensagem dele que, no ano seguinte enviei ao Tiba, o cartãozinho, à esquerda acima 👆plagiando suas palavras. Leia-o.👆. É claro que os dizeres do cartão do Tiba eram impressos, mas ele sabia escolher as frases que me impressionariam. Parece até  que conhecia o valor das palavras, como disse Layde Lopes, uma escritora, psicóloga, nos seguintes versos: " Nunca subestime o poder das palavras / Quando ásperas, causam feridas/ Quando cruéis, elas marcam vidas/ Quando suaves, desfazem rancores/ Quando carinhosas, massageiam a alma/ Quando amorosas, Ah!... elas curam feridas!"  E as palavras do Tibúrcio para mim foram mais do que  carinhosas em toda a minha vida... 

  

Cartãozinho amoroso

Um cartãozinho que amo tanto... É este aqui, à esquerda 👈 de margem vermelha e um ramo de flores e uma dedicatória  impressa: Amo  você tanto e de forma tão intensa que parece que tudo nesta vida só tem graça se for ao seu lado. E o Tiba completou: " Mamãe Glória: Assim é o amor do nosso cinquentão e naturalmente extensivos à nossa pequena família,  filhos que o amor de Cristo nos deu, junto com a Virgem Maria, a Mãe comum de todos nós". 

Não estava datado. Pelo "cinquentão" sei que o ano era 2006, ano das Bodas de Ouro, em Brasília.

Vinte e sete anos antes (1979), dele recebi um primor de mensagem. Está naquele cartão " O Amor não termina nunca.", logo ali abaixo, à esquerda👇 O texto é: "Para você, Glória, no limiar dos nossos 25 anos de caminhada juntos, agradeço-lhe e ofereço-lhe estes três bonecos de ouro que representam e selam o fruto de nosso eterno amor...25/12/79. Uma linda caixa de presente com os três bonequinhos acompanhavam o cartão.

  Ah! Tibúrcio, só você  mesmo surpreendendo  a cada mensagem...

Amorosidades...

Amorosidade

Assim é que encontrei várias passagens esparsas, vindas do Tiba, quando estava em viagem a trabalho para o quartel: "Meu amor, mãe de meus queridos filhos que tanto orgulho" / Só você e meus filhos me proporcionam alegria. Longe de vocês a vida não tem razão de ser, é mera existência./ Quero ser orgulho seu como você é meu, quero ser ainda orgulho de nossos filhos que nasceram de uma grande fonte de amor."

Vocês acham que frases com essas revelam caretices? Pois bem, eu não acho. Simples amorosidades...com certeza.

As amorosidades paternais e filiais são tantas. Encontrei-as escondidas  entre as folhas do álbum de cartas. As garatujas das crianças dão um belo recado para o papai que sempre os amou e se orgulhava deles.

Garatujas infantis 

 Rabiscos feitos, eu tinha que escrever  a tradução que Gláucia e Douglas me ditavam, tais como: 

1-Está bem, papai? Tem dinheiro aí? E balinha? Eu tenho dormido muito e o senhor não chegou ainda. Venha logo. Gláucia.

2- Papai, eu quero ir no bumbum com o senhor. Venha me buscar. Douglas. Ano 1961.

3-A nossa casa parece triste principalmente aos domingos, quando o senhor não está. A mesa é triste sem o senhor, mas espero que seja só por alguns dias. Douglas-1972.

  4- Sabe, papai, quando a pessoa fica longe é que a gente sabe como gosta dela, viu? Eu rezo todas as noites, pedindo a Deus que guarde bem o senhor e  guie  todos os  passos que o senhor der. Gláucia. 1972. 

5- O Douglas não está bigando com ninguém em casa. Ele não sai escondido e está tabalando muito. Glorinha-1967. Venha logo, todo o mundo está triste aqui. A mamãe pensou que o senhor machucou no carro que caiu. Glorinha-1972. O sargento veio avisar que o senhor não se machucou  e ficamos mais tranquilos. Então, agora está tudo bem. Papai, é só eu ouvir música eu lembro do senhor, sinto saudade, isso quer dizer amor que sinto pelo senhor. Gláucia.- 1972.

6-Papai, o senhor sabe como é, eu não estou jogando aos domingos, porque estou ajudando a mamãe a cuidar das meninas. Eu também estou orgulhoso de mim mesmo, porque é a primeira vez que troco correspondência com o senhor. Douglas/set/72...

A vida foi bordando caminhos pelas mãos infantis das minhas crianças. Mostro isso para vocês sem pieguismo nenhum.  Por exemplo, em 1977, Glorinha escreveu o poema Rosas para homenagear a 

Poema Rosas

mamãe, que diz assim:

"Gosto da rosa branca/ Que nasceu no meu jardim/ Gosto mais de sua mãe / Que criou você pra mim.

Quem criou você pra mim/Foi a sua querida mãe/ Que nasceu no meu jardim/ E me deu você  pra mim.

Ela deu você pra mim/  Pra morar no meu jardim/ Pois não sabia como criá-la/ E me deu pra ampará-la." Glorinha- 13 de março/1977.

Versos de PH

Com o tempo, os netos chegaram e novos amores também. Pedro Henrique louva  o vovô no ano 2005 nos versos:

  Vovô que foi soldado/ Estudou e por pouco não foi padre / Vovô que é construtor/ Mecânico e inventor. 

Vovô que gosta de dançar / e de piada contar./ Vovô que gosta de brincar. / É meu médico particular.

Vovô de mãos prestativas/ Fortes e carinhosas, /Vovô, meu coração por você / Bate forte de montão..

Pedro Henrique sempre esteve presente em nossa vidas com palavras carinhosas  nas datas especiais de aniversários ou bodas de casamento.

Nas Bodas de Malaquita, 56 anos de união, ele nos disse:  "Malaquita é uma pedra poderosa, símbolo do equilíbrio e sucesso como é a união de vocês". Ano 2012. Neste mesmo ano,  Glorinha, em nome de Gláucia e Douglas, no Dia das Mães, se pronunciou: "Só o tempo permanece do mesmo modo. Mamãe, você é admirável! Constantemente nos faz nascer e renascer. Você veio para nós em forma de luz divina que nos transforma com o seu imensurável jeito de amar!"

Mensagem da neta

E Bruna, neta mais nova, se expressa nas folhas desenhadas a caneta, no ano 2016: "Sou muito grata a Deus por ter um vozão como o senhor! Eu te amo. Eu te amo... Eu te amo. E você vai sair já, já desse hospital."

Vó e Pedro noCanadá 

Deus me deu três netos. Certas atitudes deles atualmente me encantam. Por quê? Porque são amorosos, e amigos. Amigos do Tiba enquanto viveu e meus amigos em toda e qualquer hora. Jamais me negaram atenção, comprometimento. Jamais lhes percebi enfado ou vergonha ao me apresentar a seus amigos ou a cumprir publicamente os preceitos morais e cuidados para comigo ( dentro dos meus 89 anos), ou para com qualquer outra pessoa idosa. Jamais demonstraram aquele preconceituoso respeito humano " O que meus amigos pensarão de mim, viajando com a vovó pelo Canadá?" ou "Andando pelo shopping ao lado da vovó de 89 anos?" 

Na Rússia

Vó e Bruna

Vó e Mariah

Avós e netos

Tudo isso me encanta! Delicadezas nos gestos e que vêm do coração. Já viajei com meus netos várias vezes. Bruna e eu para  Cabo Frio. Mariah e eu para Osasco. Pedro Henrique e eu, além do Canadá, Nova York, Rússia, um cruzeiro pelo Volga, etc, etc. Belas viagens e ótimas recordações...

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Crasear o a. 

Quero ainda falar de alguns assuntos  de nossas cartas. Coisas simples, porém importantes e que devem ser registradas. Retorno a elas.   

  Certa vez fiz referência ao Professor Antônio Sales, da UnB que nos dizia: "Cuidado com o homem que não sabe crasear o a. Cuidado com ele". O Tiba, preocupado, me pediu para não levar em conta a filosofia do professor (kkkk). Na correspondência seguinte, eu lhe disse: "Não se preocupe com homem que não sabe crasear. Há homens que realmente não sabem, mas isso não faz diferença nenhuma ou não tem  importância no relacionamento das pessoas. Há coisas mais importantes que muitos homens sabem fazer, além de crasear o a. Para mim você tem um valor enorme, sabendo ou não o problema da crase. Eu o amo muito, muito mesmo." Brasília/1972.

Carta dele

Na carta seguinte, em Xambioá, comenta as cartas das crianças e ainda diz: " Graças a Deus, nosso trabalho conjunto e com toda dificuldade, podemos dizer que estamos coroados pelo prazer de  ver nossos filhos seguindo um caminho que poucos pais conseguem. Eu a amo, minha querida, e devo a você pelo que sou e pelo que faço." 

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Resposta da proposta

 O ano de 1953 foi de acontecimentos importantes em nossa vida. A correspondência desta época reflete anseios, dificuldades, planos e mais planos forjados, com as tomadas de decisões essenciais para o futuro que desejávamos. Uma delas foi a da carta de 25 de março, onde  o Tiba se expressa: ..." Para satisfazer meu coração inquieto e insatisfeito, lhe proponho casamento. Neste longo período em que correspondemos, sua pessoa infiltrou- se em meu coração que já não me satisfaz a simples correspondência afetiva..." "Quero assumir com você um compromisso sério e sincero que me traga mais sossego e me assegure alcançar a felicidade que desejo."

Curiosas e ponderadas foram minhas frases ao responder : " Tenho pensado na sua resolução...Você é ainda muito novo, tudo é ilusão e a gente nem sempre pensa com seriedade. ...Isso é  um compromisso tão sério que exige de nós grande esforço para se chegar a um determinado fim." ..." Qual a duração  do curso que pretende fazer?...A distância é um fator que pode influenciar e ainda quando tiver novas amizades até então desconhecidas..." Reflita primeiro, muito sobre o assunto e depois me diga os seus futuros planos".

 Noto nas mensagens seguintes planos refeitos e novas decisões misturados a dúvidas, intranquilidades, 

Mensagem dele-1

 e muita dose de querer vencer. Mesmo sem uma resposta positiva, senti que o meu futuro estava já traçado e aceito.

Minha mensagem-2

Minha mensagem-1

Mensagem dele-2

Querer é Poder

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Decisões tomadas, ajuda mútua estabelecida foi a hora de concretizar os caminhos estabelecidos. Palavras amenas, palavras decisivas, nunca ásperas, jamais desesperadoras, sempre carinhosas e cheias de vida, inspiradoras... Algumas pinceladas, aqui e ali, só para lembrar e comprovar:

"... nada  me obriga dizer que a amo e tudo que dizemos sem constrangimento, espontaneamente, reflete na sinceridade..." Está em carta dele.

" As nossas dificuldades e problemas devem ser estudados juntos..." " ...quero partilhar tudo com você e sentir-me útil a seu lado." Está em minha mensagem -2- carta de 20 de setembro , onde expresso:

" os exames estão próximos e é preciso estudar muito para conseguir aquilo que deseja. Eu creio e espero que seja bem sucedido, pois tem força de vontade...e ...muito de seu futuro depende da vitória ou não alcançada agora... Tenha fé em Deus e em si próprio..."

Carta de  15 de outubro de 53, ele diz: " ...você diz que sou muito novo para tamanha responsabilidade, não sou tão novo assim... Esquecê- la? Não faz dois dias que nos conhecemos e sim dois anos. E estamos constantemente separados, portanto a distância não influi neste caso para mim... Eu vou para  a ESA em 54. Depois, prosseguir meus estudos...preciso me estabilizar... não sou leviano..."

Em 26 de outubro, ele afirma: ... " Se por infelicidade não for chamado para a Escola, não sei se terei um emprego na vida civil... posso não conseguir..." E eu lhe respondi assim, no dia 31 de outubro:  "...Sabemos que a vida é uma constante luta e aquele que não age, existe como a pedra, mas não vive como o homem, além  disso tenho comigo aquele conceito ' Querer é Poder' e tendo força de vontade tudo se consegue... ...Tudo o que queremos hoje devemos conquistar custe o que custar..."

Em novembro, as palavras dele chegaram: " Boa vontade, desprendimento, disposição às vezes não  bastam para fazer e conservar a felicidade. Se você diz que Querer é Poder eu não posso definitivamente desanimar também. Se você confia em mim estarei pronto... para fazer o melhor para nós."

Na carta prateada encontrei: " Esta sua última carta me trouxe calma ao espírito e grande confiança  nos dias que virão. Suas palavras deram-me renovado alento e quero enfrentar as dificuldades com o rijo escudo da 'vontade de vencer'.

 No final de novembro daquele ano, ele me comunicou : " Recebi um telegrama da EsA dizendo que fui classificado. Aguardo minha ida que será em fevereiro de 54."

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Amenidades entre nós sempre existiram. Levamos nossa vida na amorosidade, então a recompensa não estava distante de Deus. E ela veio logo depois, em 1956, quando nos casamos e um novo tempo começou.

Palavras dos filhos

Doces palavras

Meu recadinho

Recordo tudo isso como  ternas passagens de um tempo bom que se foi. Nada de caretice ou pieguismo, graças a Deus. 

Acredito que nem sempre tenha sido  a "doce alma de mulher" que o Tiba se expressa na mensagem dourada, ali acima. Afirmo, porém, que levava  a sério a verdade contida no pensamento de  Antoine Saint Exupéry "O amor não consiste em ter os olhos fitos um no outro, mas em olharem ambos na mesma direção."  Frase que  está em minha carta de 31 de outubro de 1953.

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" A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente. "

Brasília, 1 de junho de 2023

Postado por Maria da  Glória Guimarães Dias