24 agosto 2022

NAVEGAR é preciso. VIVER não é preciso.

Tibúrcio na EsSA - 1954
EsSA- Ano 1954/ Brasília- Ano 2022

O Sargentinho que passo a retratar aqui é  ele: o aluno 163 do Curso de Infantaria da EsSA, ano 1954; o camarada amigo dos eseanos de todas as Armas; o Esbelto Infante, assim chamado por alguns irmãos de Arma; a pessoa amiga de tanta gente que se espalha por aí; e, principalmente, o MEU AMIGO de todas as horas e o MEU COMPANHEIRO inseparável de tantos anos.

Ele é o CARNEIRO, nome de guerra na Escola em Três Corações, depois TIBÚRCIO para todos e TIBA para mim. Ali, à direita, 👉está ele na pose que ninguém pode colocar defeito, orgulhosamente ostentando a farda de Sargento pela primeira vez. Farda que soube sempre honrar em todos os postos por que passou, até chegar a Major na reserva em 1983, e posteriormente, a Ten.Coronel, Coronel e, por último, a General de Brigada.

Tibúrcio foi um militar exemplar. No final  do curso, convidado para ser monitor na escola, não quis assumir, optando pela fronteira Cáceres-MT. Em seus planos estava o casamento, direito que lhe assegurava a fronteira. Naquela época estava em vigor

Capitão Tibúrcio
uma lei que estabelecia que o sargento recém saído da escola só poderia se casar após cinco anos de formado. E ele tinha os seus planos já estabelecidos.

E o nosso casamento aconteceu no dia 2 de julho de 1956. Completamos 60 anos de união, de companheirismo, de amizade e muito amor, em 2 de julho de 2016. Nesse período todo, muitas coisas boas aconteceram. Foi época de preparação para o futuro e de muitas realizações. Acompanhei-o pela fronteira Brasil/Bolívia. Ele foi  como sargento, comandante de destacamento em Porto Esperidião-MT e eu, professora de crianças brasileiras, paraguaias e de filhos de índios bolivianos. 
Nossa família foi-se formando com a chegada dos filhos: Gláucia Mirtes, quase nasce em Cáceres, mas nasceu em  Rio Verde -Goiás. Douglas Cícero nasceu em Ipameri -Goiás. Voltamos a morar nesta cidade goiana, onde conheci o Tiba, soldadinho, antes de ir para a EsSA. Em 1961,vivemos a experiência da criação da unidade militar de Uberlândia-MG, onde moramos por quase dez anos; e, lá, a caçula da família, Glória Mirtes, veio ao mundo. Finalmente, em dezembro de 1971, aportamos em Brasília. A princípio, segundo os planos de família, seria por dois anos apenas. Entretanto, resolvemos continuar. E em Brasília ficamos. Nesta cidade criamos e educamos os filhos e nos realizamos profissionalmente.
Ten. Coronel-EsSA-2014
  Tibúrcio, tendo como exemplos, o Coronel Moacir de Araújo Lopes, admirado por todos os alunos da EsSA que se formaram sob o seu  comando, e o Coronel Demóstenes Américo da Silva, Comandante do 2º Batalhão de Fronteira, aonde foi servir ao sair da EsSA, adotou o lema defendido por esse militar: " Deus, Pátria e Família, a riqueza de todo o homem".  
 E foi o lema " Deus, Pátria e Família" o pilar que sustentou a sua vida. Vida que foi uma bênção divina para mim, meus filhos e meus netos.
Meu amado Tiba, pai de meus filhos e avô querido, no dia 8 de setembro de 2016, às 14 horas, cumpriu mais um dever de sua vida, obedecendo aos planos de Deus. Teve que partir uma vez mais, pois que ... "Navegar era preciso e Viver não era preciso"...

Hoje fico pensando no simbolismo e na força desta frase " Navegar é preciso, viver não é preciso" que nasceu assim: "Navigare necesse, vivere non est necesse" palavras ditas pelo general romano Pompeu, no século I a.C., precisamente no ano 70 daquela era, encorajando os receosos navegantes da antiguidade. Diz a História que os brados do general Pompeu ressoavam acima dos sons da tormenta do mar e do medo dos navegantes. " Navigare necesse, vivere non est necesse!", tudo ressoava vibrantemente, extraindo forças da necessidade de seguir enquanto  vida houvesse... E foi nesse contexto que o general venceu...
Anos mais tarde, já no século XIV, o poeta italiano Petrarca transforma a expressão criada por Pompeu, para "Navegar é preciso, viver não é preciso" tal como a conhecemos hoje. E que poetas como Fernando Pessoa e outros  falaram sobre o espírito  da frase e deram  as mais diversas explicações.
 E eu  me pergunto: Navegar é preciso? Sim. Navegar pelo oceano do mundo é mais necessário do que viver ancorado em um porto qualquer esperando a vida passar. E o Tiba sabia disso. E viver é preciso?  Sim, uma vez que viver é uma viagem feita de opções e transições. Viver só não é preciso quando  Deus nos chamar para o outro lado da vida. Ou ainda , quando navegar é sonhar, ousar, arriscar, realizar... Porque aí, NAVEGAR é  VIVER!  

Enquanto viveu, a presença de Tibúrcio neste mundo foi admirável. Tinha de ser militar e Infante, a principal força combativa de um exército. Por isso foi disciplinado, cheio de civismo patriótico e cumpridor de seus deveres. Foi um cidadão ético e um cristão de primeira linha. Sempre combateu o bom combate das causas nobres, da justiça e da caridade- a prática do amor.

E aqui estamos nós- uma pequena família, um tesouro valioso. Em sentido horário: Tiba-Tibúrcio, Glória, e Glória Mirtes. Douglas Cìcero, esposa Marta Luísa e as filhas Mariah e 
Bruna. Gláucia Mirtes, esposo Josafá de Araújo e o filho Pedro Henrique. Foto do ano 2012.


Esse texto  foi escrito em 2017, para atender  a um pedido de Ivan Castro de Sousa, amigo do Tibúrcio e seu colega de turma da EsSA- Escola de  Sargento das Armas- Ano 1954, que  desejava publicar algo sobre ele em seu livro Irmãos de Armas e de Almas. Livro que foi publicado em 2020.

 Como estou registrando no Blog da Família Guimarães minhas histórias de vida, aproveito para atualizar e finalizar este assunto.
  
Em família ano 2015

Uma das últimas fotos do Tiba-2016

 








Bodas de Ouro- 2006

Na EsSA-2014 - Oficiais- companheiros de turma.













Bodas de Diamante- 2016


Ano 2016

Na EsSA-2014
Coronel Tibúrcio na EsSA em 2014
Nossa primeira foto- ano 1951-Goiânia
Tibúrcio deixou exemplos notáveis de uma vivência em família de 60 anos. Por isso, eu, meus filhos e netos jamais o esqueceremos. Sua presença estará sempre em nosso coração passe o tempo que passar...

 E como diz na música " L'hymne à L'amour"  com Paroles de Edith Piaf e música de Marguerite Monnot e Eddie Constantino, um dia  qualquer  Deus nos reunirá onde ele estiver...

" Si un jour la vie t'arrache `a moi
Si tu muers, que tu sois loin de moi
Peu m'import si tu m'aimes
Car moi je morrais aussi
Nous aurons pour nous l'éternité
Dans le bleu de toute l'immensité
Dans le ciel, plus de problèmes
Mon amour, crois-tu qu'on s'aime
Dieu réunit ceux qui s'aiment."


Homenagem póstuma- ano 2016

Conheça agora a belíssima versão brasileira da música Hino ao Amor, realizada por Odair Marsano em 
em 1959, música cantada por Dalva de Oliveira, Maysa, Wilma Bentivegna e outros cantores famosos.
Se o azul do céu escurecer
E a alegria na Terra fenecer
Não importa, querido,
Viverei do nosso amor...

Se tu és o sol dos dias meus
Se os meus beijos sempre forem teus
Não importa, querido,
O amargor das dores desta vida

Um punhado de estrelas
No infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos,
Risos, crenças e castigos
Quero apenas te adorar.

Se o destino, então, nos separar
E distante a morte te encontrar.
Não importa, querido,
Porque eu morrerei, também...

Quando, enfim, a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará, no Céu, te encontrar...
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 Brasília, 23 de agosto de 2022 - Postado por Maria da Glória Guimarães Dias